Perdoa-lhe

Se esta briga de impropérios não parar
e for para continuar até de madrugada,
melhor fora que a voz fosse embargada.
Ele há cada uma. Isto não pode continuar.

Se esta chuva de palavras não parar,
é todo o campo que fica alagado,
imerge o pensamento por insultado,
mata as culturas, matando todo o sonhar.

Se me sinto perplexo e aperreado,
não é tanto pelos verbos, mas pelas ideias,
há termos desnaturados, tão cheios de peias,
que mais parecem a letra dalgum cruel fado .

Vou fazer crer, que sou surdo e mudo,
ou como se fosse atacado de morte súbita,
para nem compactuar mais desta desdita.
Já basta, mais não! Que este atropelo seja tudo...

Palavras assim irreflectidas ou injuriosas,
lastram este chão de amarguras doentias...
basta semeá-las assim e crescem todos os dias,
como promessas não cumpridas e dolosas.

Águas assim vêm molhadas de amarguras,
prometem apenas regar os chãos hostis.
Não teimes mais, pois tudo o que se diz
no calor duma prosa assim, vira loucuras.

Olha…expirei, insultado e injuriado,
enquanto a chuva caía já feita em lama.
Foram tantas as falsidades ouvidas nesta trama.
Meu deus, perdoa-lhe mais este pecado.