Ontem eu enamorado

Ontem eu enamorado,
no teu colo aconchegado,
trocava beijos de amor.
Era tamanha a porfia,
que a Lua me dizia,
ao ouvido com pudor.

Olha lá essa atrevida,
mexeu com a tua vida,
deixaste ela trepar.
Foi tudo tão repentino,
saiu da casca o destino
e levou-te a acordar.

Cedeu aos teus repentes,
em que alteias ardentes,
clamores de desejos,
Deixaste-a pronunciar:
é tão bom! Estou a gostar!
Dá-me mais dos teus beijos.

Num encontro pré-previsto,
daqueles que eu não resisto,
quem sabe pra recordar.
Tremi o corpo e sorri,
de tanto que me diverti,
tanto mais quero teimar.

Conta pra mim da utopia,
a fim de evocarmos o dia,
em que iniciamos os passos,
nesta afinidade tão bela,
qual canteiro na janela,
em que urdi teus laços.

Penso ser esta a razão,
de estarmos em comunhão,
nossa carência e solidão,
a tristeza que não nos larga.
Essa obtusa, tão amarga,
que nos encharca o coração!