A minha dor

O meu pensamento, quero registá-lo em poesia,
evocar em palavras, a minha consciência,
recordar-me dos instantes cheio de alegria,
porque carpir, leva a mágoas e demência.

Falta aqui o meu amor, falta-me o seu sorriso,
reunir-me ao céu em seus braços e pernas,
queimar-me na fogueira do que preciso,
porque assim, neste vazio me consternas.

Quero ser contigo um tempo de vida, ser a flor,
onde pousa a borboleta pintada.
que ao fechar as asas, fica radiante e divertida
e ao abri-las, se lança em voo mais animada.

Desejando bálsamo resto-me a mirar estas ruas
Olhar esta paisagem de palmeiras e relvado
Na ilusão de encontrar aqui as sombras que fossem tuas
Mas a ansiedade não te trás, até este gramado

O meu pensamento, sinto-o me desafiando,
como uma chama me queimando a fronte,
mas nem o tempo, nem as tuas sombras aqui faltando,
vão apagar com esta aragem, ou atear este monte.

É o mar em baixo que compõe esta maresia,
traz esta humidade que baila nos céus
e este vento que sacode as mágoas de fim de dia.
Serás tu que envias estes sussurros pra serem meus?

Eu sinto que é a tua voz me dando mercês,
talvez querendo que saiba do teu amor,
da falta que sentes, porque não me vês,
mas mesmo que seja só ilusão, são sons de dor.

Estas luzes da cidade ferem-me a vista,
matam a alma pelo que de brilho delegam,
nem dão constância, nem descanso á conquista,
dum dia como o de hoje, em que estes ventos me cegam.

Preferia o sossego da Serra e os ares da lua,
com os ventos passando por cima das serranias
e no vale a calma ser completa com uma presença tua
e ai, te poder beijar, como beijei outros dias.

Se tudo isto não passar dum sonho,
ou este vento se perder pra lá do alvorar,
o meu pensamento sempre amaina e o componho.
Nestes sítios, doutra saga, mas no teu amar.