Num bar qualquer

Sonho-a ao meu lado sentada,
de mente e gestos provocada.
São razões e desejos insaciados,
feitos de esperas e deleites,
na demora de serem aceites,
como actos consumados.

Sinto uma ânsia indecente,
me devastando a mente,
enlouqueço de prazer.
De olhos fechados a sonhar,
sinto os seus dedos me tocar,
fazendo-me o corpo estremecer.

Mas, continuando o sonho no ar,
sozinho nesta mesa de bar,
dum bar qualquer da cidade,
sorvendo apenas o meu ar e a ambição,
neste preambulo da inspiração.
São fantasias envoltas em realidade.

Umas legítimas e sublimes,
onde ela se redime,
outras transpiram sensualidade.
São todas, desejos insatisfeitos,
de carícias e de beijos,
coisas próprias desta idade.

Mas eis que um sorriso sobressai,
de tanto imaginar o que pr'aqui vai.
Alguém, pergunta: Amigo como andas?
Respondo, ainda sonhando: Olá, vou bem!
Pareces sonhar com alguém.
Pois sonho, anda uma amada em cirandas.

Quem é ela, podes dizer?
Porque não, se queres saber,
mora longe, muito longe e por isso ando aéreo,
um dia sulco os mares
e quando menos esperares,
eis-me perto dela, acredita falo a sério.